quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Exu: deve-se temer ou entender?


Em geral, a porção racional da mente, portanto a consciência, nos faz temer aquilo que não conhecemos, como uma estratégia de defesa. O mesmo se dá em relação a Exu, entidade tanto desconhecida como incompreendida. Mas afinal, quem é Exu?
Dentre muitos, Exu é um dos orixás do panteão yorubá trazidos para o Brasil durante o período da escravidão. Tem como principal característica a dualidade. Faz o papel de mensageiro entre o mundo divino, o espaço infinito; e o mundo físico, humano. Por isso, é considerado o orixá da comunicação.
Suas cores principais são o preto e o vermelho. Os símbolos que o representam são o falo (pênis) e o tridente; razão pela qual, talvez, os cristãos brasileiros tenham-no associado ao demônio.
Na Umbanda, Exu apresentou-se através de uma linha de entidades e utilizou nomes representativos, tais como Tranca-ruas, Tiriri, Marabô, Pinga-fogo, etc. Assumiu a condição de guardião pessoal, do terreiro e das cancelas. Apresentava-se com roupas e capas de cores preta e vermelha, portando instrumentos como o tridente, bebendo pinga e fumando charuto. Sua incorporação deixava o médium com as mãos e os pés retorcidos. Falava palavrões. Era proibida a presença de crianças em suas giras. Tudo isso contribuiu para que se reforçasse o preconceito contra Exu.
Sua principal missão na Umbanda é a de combater espíritos trevosos, quebrar demandas, desmanchar trabalhos e cortar magias negras. Também recebeu a função de agente cármico, ou seja, punidor daqueles que desafiam as Leis Divinas.
Com tantos atributos difamatórios, não por menos, Exu passou a ser tão temido, principalmente aos olhos de um povo que tem o imaginário rico para construir histórias de criaturas malignas.
Ainda hoje, as pessoas carregam esse medo, fruto da incompreensão. A Umbanda, aos poucos, tem desmistificado e esclarecido que Exu nasceu a partir do “vazio divino”, mas é parte indissociável do todo, da completude, como mensageiro e guardião.
Felizmente, a Umbanda vive um novo tempo. A busca pelo conhecimento substituiu crendices e superstições. Atualmente, os terreiros oferecem estudos sobre a religião que buscam, por meio de cursos, responder todas essas questões, e um dos mais procurados é, sem dúvida, o de Exu; algo
que não nos surpreende, tendo em vista a quantidade de dúvidas a respeito da Entidade.
O conhecimento doutrina o médium, afastando comportamentos indesejáveis. Dá à Entidade parâmetros mais adequados. Traz a necessária leveza aos trabalhos religiosos e desmistifica a falsa ideia de que Exu é o diabo.
Assim, é possível compreender melhor quem é Exu, quais são os seus atributos e características. Embora continue sendo Exu, senhor de total dualidade, com o seu comportamento sempre controvertido, deixamos de temê-lo para simplesmente respeitá-lo. Afinal, Exu é um guia de Luz que merece todo nosso respeito e admiração.
Alexandre Trinidad

Agradecimento especial à Edilson Menezes que tem sido um mestre orientando-me nesse novo projeto na tentativa de registrar um pouco sobre a Umbanda.

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